quarta-feira, 4 de maio de 2011

Narciso e Eco


Certa feita, Zeus resolveu dar uma de suas escapadelas e pediu ajuda a uma ninfa para que distraísse sua querida esposa com a conversa. A ninfa era daquelas que falam mais que a boca e a grande deusa ficou muito irritada ao perceber o estratagema. Como castigo, lançou uma maldição sobre Eco -este era o seu nome: só poderia falar em resposta à voz de outra pessoa e mesmo assim só poderia repetir as últimas palavras ditas pelo outro.
Exilada da presença dos deuses, a ninfa passou a perambular pelos bosques até que um dia se deparou com o mais belo dos mortais, aquele que Tirésias previra a morte se deparasse com a própria imagem. Apaixonou-se de imediato e passou a seguí-lo por todos os cantos, esperando ansiosamente que ele dissesse alguma coisa e ela pudesse se dar a conhecer. Absorto em si mesmo como era, Narciso não se dava conta de sua presença.
Um dia, enfim, o jovem parou na beira de um lago para beber água e Eco aproveitou a oportunidade para balançar alguns galhos e assim chamar a sua atenção.
- Tem alguém aí? - perguntou Narciso.
- Aí? - respondeu ela.
- Vem até aqui! - disse ele.
- Aqui! - repetiu a ninfa já estendendo os braços para tentar abraçá-lo.
- Vai-te embora! - gritou o jovem. Nunca haverá nada entre os da tua laia e o belo Narciso.
- Narciso!- suspirou Eco e partiu pedindo aos deuses que castigassem aquele orgulhoso jovem fazendo com que sentisse um amor impossível. Foi ouvida.
Ao debruçar-se no lago para beber água, Narciso contemplou sua magnífica imagem e apaixonou-se perdidamente. Tentava tocá-lo mas não conseguia, ao beijar o lago sua imagem se desvanecia. Imobilizado pela paixão deixou-se ficar dias, semanas, meses contemplando a imagem amada refletida na lisa superfície do lago. Não comia, não dormia, apenas suspirava "Ais" que eram devolvidos por Eco que a tudo assistia.
Finalmente depois de um longo tempo, o coração magoado parou de bater e o mais belo já nascido caiu frio e imóvel entre as flores à beira do lago. Os deuses tocados com aquela visão comovente transformaram Narciso na flor que é conhecida por seu nome. Eco, por sua vez, transpassada pela dor da rejeição e da perda definhou até restar-lhe apenas a voz.
Esta história se repete constantemente. Ecos e Narcisos seguem vida a fora. Ela, destituída de sua própria voz. Ele, incapaz de ver qualquer coisa para além de si. Comovente no mito, destrutiva por extremo na vida.


2 comentários:

Lu Saharov disse...

Amiga, fico impressionada como, há tantos séculos atrás,existiram sábios que criaram a mitologia e espelharam nela todas as nossas fraquezas humanas.Não foram eles os psicólogos da antiguidade? Tão antigo e tão atual! A psiquê do ser humano não muda...

Cassia disse...

Pois é, Ludmila! Mito pode elucidar muita coisa...

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...