sexta-feira, 6 de maio de 2011

Adélia e seu amor feinho


O amor é tema constante tanto na psicoterapia, quanto nas mesas de bar. Todos estão à sua procura. Cada qual busca o seu. Idealizado ao extremo, solução de todos os problemas, remédio para todas as dores. Ligamos o rádio e todas as canções falam exaustivamente do amor. De preferência daquele que se perdeu ou que nunca foi correspondido. Amor impossível rende, mais que samba, uma extensa literatura. Se a proposta fosse parar para sentir, muitas vezes nos depararíamos com esta necessidade maior de viver uma história do que uma relação. Disponibilizar-se para um encontro profundo com o Outro e conosco mesmos não é missão fácil. Aceitar desilusões que acontecem na convivência diária. Despir as roupas mágicas de uma personagem amável que criamos. Grandes desafios se descortinam depois dos momentos encantados dos primeiros encontros. Viver o dia a dia sem grandes emoções, dramas ou sobressaltos mas com uma disponibilidade imensa de ir além das ilusões e amar de verdade.
Gosto bastante de um poema de Adélia Prado que fala deste amor diário, sem deslumbramentos nem fantasias, porém, ainda assim repassado de poesia.

Amor Feinho

Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.

Um comentário:

Cristina Balieiro disse...

Para mim, essa é uma das melhores definições que já vi sobre o amor entre um casal!
Viva Adélia!!!

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