segunda-feira, 23 de maio de 2011

O que querem as mulheres?


Pergunta sem resposta. Pergunta com infinitas respostas. Mulheres, como humanas que são, se mostram indecifráveis. Até para si próprias e aí começam as confusões. Podem achar que querem desesperadamente isto ou aquilo e estão apenas repetindo os modelos da cultura. Tenho lido nos últimos tempos ataques constantes a esta nova realidade pós-feminismo. Mulheres lamentando as perdas das benesses de ter alguém para pagar suas contas e dos desafios de se mover num mundo ainda predominantemente masculino. Ansiando por retornar a um estado de dependência. Apenas engatinhando nestes novos tempos, ainda não criamos um mundo em que sejamos iguais em direito e diferentes em todo o resto. Creio que por tantas dificuldades muitas acabam por esquecer de uma necessidade inerente a todo o ser humano e não restrita a gênero. Esta lenda do ciclo do rei Arthur pode nos revelar algo.

Numa ocasião em que o rei Artur caçava na floresta de Inglewood, distanciou-se de seus companheiros, em perseguição a um grande veado. Depois de abater o animal, um homem extraordinário aparece e ameaça matá-lo, em retaliação ao fato do rei ter dado suas terras a Sir Gawain. Mas concorda em poupá-lo, desde que Artur retorne ao mesmo lugar dali a um ano, com a resposta à pergunta: O que uma mulher realmente deseja?

Sem relatar o acontecido, Artur retorna ao convívio no castelo, mas seu estado de ânimo abatido chama a atenção de Sir Gawain e quando, questionado por este, revela seu encontro, eles percorrem juntos o mundo em busca da resposta. Depois de meses, retornam ao castelo com uma infinidade de respostas, mas nenhuma parece ser a correta.

Então Artur retorna para a floresta de Inglewood e no caminho depara com uma senhora cavalgando um belíssimo cavalo selado, com um alaúde atravessado nas costas, ela mesma tão horrorosa, que palavras não a podem descrever. Aproxima-se de Artur e lhe diz, sem subterfúgios, que as respostas que coletou são inúteis e que certamente morreria, a não ser que ele lhe prometesse casá-la com Sir Gawain e, em troca, ela lhe daria a resposta correta.

Artur então retorna ao castelo e consulta Gawain, que concorda sem hesitar, como o perfeito cavalheiro que é. Assim, Artur retorna para obter a resposta, de que ‘o que uma mulher mais quer é ter soberania sobre os homens’, resposta que ele leva ao encontro com o misterioso homem e é dispensado. Em seu caminho de volta para o castelo, é acompanhado da Dame Ragnell, o nome desta Senhora Repugnante, para realizar o casamento.

Na noite de núpcias, Gawain se retira para os aposentos em companhia da Dame Ragnell e quando se aproxima para cumprir seu dever de marido, ele se vê diante da mais bela donzela. Surpreso, ela lhe dá a opção de tê-la feia durante o dia e bonita durante a noite, ou vice-versa. Refletindo um pouco, ele lhe diz que a escolha é dela. Feliz, ela lhe revela que, ao lhe conceder a soberania, ele quebrou o encantamento que tinha sido imposto a ela, de modo que ela seria bela o tempo todo.

Ou seja, o que toda mulher quer é autonomia e soberania sobre sua própria existência. É bom sempre nos lembrarmos disso.


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