quinta-feira, 5 de maio de 2011

Como as histórias foram criadas...


Nasci e fui criada numa tradição religiosa que privilegiava histórias. Aprendi a ler num grande livro cheio de muitas histórias fantásticas que compunham meu universo infantil. Quando tinha 6 anos contei minha primeira história em público, na escola dominical, sobre o primeiro capítulo do grande livro que descreve como o mundo foi criado. Lembro que usei como recurso uns círculos que pintei para falar de cada dia da criação.Tinha que contar para os pequenininhos de 3 anos. Foi bom! Gostei tanto que nunca mais parei...
Muitos anos depois me deparei com Clarissa Pínkola e coincidentemente ela narra em sue livro, "O jardineiro que tinha fé", que a primeira história que criou foi justamente esta, com adaptações. Sinto-me profundamente honrada em ter algo em comum com minha grande mestra.

A Criação da Histórias

Como as histórias nasceram? Ah, as histórias vieram ao mundo porque Deus se sentia só.
Deus se sentia só? Claro que sim, sabe? Porque o vazio no início dos tempos era muito escuro. O vazio era escuto porque estava tão abarrotado de histórias que nem uma única história conseguia se salientar das outras.
As histórias estavam, portanto, sem forma, e olhar de Deus passeava pelas profundezas, à procura, em busca de uma história. E a solidão de Deus era imensa.
Finalmente, surgiu uma grande ideia, e Deus murmurou:" Que se faça a luz".
E veio tanta luz que Deus pôde estender a mão para o vazio e separar as histórias sombrias das de luz. Daí resultou o nascimento de claras histórias matinais bem com de belas histórias noturnas. E Deus viu que isso era bom.
Deus, então, ficou animado e passou a separar as histórias celestiais das histórias terrenas, e estas das histórias sobre a água. Deus teve enorme prazer em criar as árvores pequenas e grandes, as plantas e as sementes para que pudessem haver histórias sobre as árvores, as sementes e as plantas também. Deus riu de contentamento, e do riso de Deus as estrelas e o céu caíram nos seus lugares. Deus instalou no céu a luz dourada, o sol, para dominar o dia: e a lua, a luz de prata, para dominar a noite. E no fundo, Deus as criou para que houvesse histórias sobre as estrelas e a lua, sobre o sol e histórias sobre todos os mistérios da noite.
Deus ficou tão satisfeito com elas que passou a criar pássaros, monstros marinhos e todas as criaturas vivas que se movem, todos os peixes e as plantas debaixo d'água, todos os seres alados, todo o gado e as criaturas rastejantes, todos os animais da terra, de acordo dom sua espécie. E de todos eles vinham histórias sobre os mensageiros alados de Deus, histórias sobre fantasmas e monstros, baleias e peixes, e outras histórias sobre a vida antes que a vida se conhecesse, sobre tudo que a vida tinha no momento e tudo que viria a nascer um dia.
No entanto, mesmo com todas essas criaturas fantásticas e essas histórias magníficas, mesmo com todos os prazeres da criação, Deus ainda esta solitário.
Deus andava de um lado para o outro e pensava. Pensava e andava de um lado para o outro. E finalmente ocorreu um ideia ao nosso grande Criador! "Ah. Vamos criar seres humanos à nossa imagem, à nossa semelhança. Que eles cuidem de todas as criaturas dos mares, dos ares e da terra, e que delas recebam cuidados também".
E então criou os seres humanos com o pó da terra e soprou nas sua narinas o alento da vida. e os seres humanos se tornaram almas viventes. Homem e mulher, Deus os criou. E à medida que foram criados, de repente, todas as histórias que acompanham o fato de ser totalmente humano também ganharam vida, milhões e milhões de histórias. E Dues abençoou todas elas e as colocou num jardim chamado Éden.
Agora Deus passeava pelos céus todo sorrisos, porque afinal, sabe, Deus não se sentia mais só.
Não eram as histórias que estavam faltando na criação, mas sim, e de modo mais específico, os humanos expressivos que pudessem contá-las.

Estés, Clarissa Pínkola - O jardineiro que tinha fé: uma fábula sobre o que não pode morrer nunca - Rio de Janeiro: Rocco,1996

Um comentário:

Lu Saharov disse...

O jardineiro que tinha fé é um livro de inspirações inesgotáveis! Também me acompanha pelas leituras afora!
Hoje tirei a manhã dessa sexta feira chuvosa aqui em Rio grande,
para colocar em dia a leitura desse seu blog que me encanta! Delícia de programa! Obrigada, amiga!

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