sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Homem e mulher...

Ela vinha de muito longe. Ela vinha de muito perto. Incorpórea visão. Volátil perfume. Misto de sonhos, ilusões, anseios. Pairava sobre si mesma. Nos olhos trazia a impossibilidade de ser, a dor na ferida aberta em seu peito. Escondia-se nas meigas falas e nos velozes pensamentos. Comprazia-se em se fazer rejeitar. Desejava, desejava e desejava. Recebia, porém, alimento para devaneios. Era venerada, admirada, musa de cavaleiros temporãos. Sentia-se menor, limitada, aquém de seu verdadeiro ser.
Ele já estava lá. Conhecia-o há tempos. Belo, desejável. Ela já o havia transformado em matéria de sonhos. Diluía seus olhares. Explicava seus abraços mais apertados:era carinhoso assim mesmo... Fazia sua habitual cara de paisagem.
Chegou, enfim, um dia. O dia em que ele a quis por sobre a névoa. Seu desejo e determinação foram tamanhos que ignorou por completo as tentativas de fuga, as desculpas, os desvios. O momento era chegado: agora ou nunca! Ele a queria e era pra já. Ela ainda tentou se esconder atrás da velha e boa histórias que a consumia, que exauria suas forças e sua alegria. História para boi dormir. Tentou fugir mais uma vez da vida, do ser, de seu corpo que pedia... Ele, bendito seja, não deixou. Seus olhos, suas mãos, não se afastaram dela. Seu respirar, seu transparente e inequívoco desejo.
Encontraram-se por fim, corpo e alma; ação e desejo. Bocas, peles, sexos. Ela, como que em sonho flutuava por sobre a cena, sem acreditar. Era real, enfim acontecera. Ele, nu, magnífico a tocava, cheirava, mordia, lambia, penetrava seus espaços. Era bom! Ah! Era muito bom mesmo! Amaram-se com urgência. Conversaram também. Ele, gentil, lhe contou carinhosamente a história que só se conta às quintas-feiras. Ela sorria feliz contemplando o reflexo de seus corpos. Não havia vergonha, não havia orgulho.
Amaram-se mais uma vez, com calma, com delicadezas. Foi bom! Muito, muito bom! Era momento de ir, de se deixarem partir. Ela, inteira mulher. Ele, todo homem. Guardados um nas reentrâncias do outro, misturados na fantasia que se fez carne. Apaixonados por si mesmos através do encontro. Um. Uma. Viventes. Visitados por Afrodite e Dioniso.

Imagem: Vigeland , Man and Woman

Um comentário:

Patricia. disse...

Fantástico!!!

Afrodite, essa danadinha!
;)

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