segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Manoel de Barros cria sua naturezinha...

Hoje é aniversário de um dos meus poetas mais amados. Tão simples, mas tão simples que chega a doer de tanta beleza descoberta nas coisas ínfimas: Manoel de Barros.

O Lápis


É por demais de grande a natureza de Deus.
Eu queria fazer para mim uma naturezinha
particular.
Tão pequena que coubesse na ponta do meu
lápis.
Fosse ela, quem me dera, só do tamanho do
meu quintal.
No quintal ia nascer um pé de tamarino apenas
para uso dos passarinhos.
E que as manhãs elaborassem outras aves para
compor o azul do céu.
E se não fosse pedir demais eu queira que no
fundo corresse um rio.
Na verdade na verdade a coisa mais importante
que eu desejava era o rio.
No rio eu e a nossa turma, a gente iria todo
dia jogar cangapé nas águas correntes.
Essa, eu penso, é que seria a minha naturezinha
particular.
Até onde o meu pequeno lápis poderia alcançar.

Barros, Manoel - Poesia Completa - São Paulo, Leya, 2010.

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