segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O nascimento do poema

Semana em que se comemora o nascimento de um ser Divino. Dizem que sua mãe engravidou ao ouvir do Arcanjo anunciador a revelação. Dizem que a Palavra é que trouxe à luz a Criança Sagrada. Assim nascem os mundos e a beleza. Adélia Prado, que é sempre visitada pelo sopro divino, sabe bem disso...


O Nascimento do Poema


O que existe são coisas, 
não palavras. Por isso
te ouvirei sem cansaço recitar em  búlgaro
como olharei montanhas durante horas,
ou nuvens. Sinais valem palavras,
palavras valem coisas,
coisas não valem nada.
Entender é um rapto,
é o mesmo que desentender.
Minha mãe morrendo,
não faltou a meu choro este arco-íris: 
o luto irá bem dom meus cabelos claros.
Granito, lápide, crepe,
são belas coisas ou palavras belas?
Mármore, sol, lixívia.
Entender-me sequestra de palavra e de coisa,
arremessa-me ao coração da poesia.
Por isso escrevo os poemas
pra velar o que ameaça minha fraqueza mortal. 
recuso-me a acreditar que homens inventam as línguas,
é o Espírito quem me impele, 
quer ser adorado
 e sopra no meu ouvido este hino litúrgico:
baldes, vassouras, dívidas e medo,
 desejo de ver Jonathan e ser condenada ao inferno.
Não construí as pirâmides. Sou Deus.

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