segunda-feira, 27 de junho de 2011

Cenas de um casamento


Ela o conheceu na balada. Parecia um cara legal. Tratou logo de numa conversa rápida e entrecortada pelo som altíssimo e dançante descobrir mais sobre o moço. Ele se encantou imediatamente com aquela menina tão divertida e descolada. Marcaram um novo encontro para fazer uma trilha no domingo. Ela,  que odiava acordar tão cedo e detestava mato, apareceu radiante e entusiasmada pela aventura. A partir desse dia não mais se largaram. Ela topava absolutamente tudo e corriam desenfreados pelo mundo na possante moto que ele tanto amava. Bebiam, dançavam, faziam amor e se divertiam a valer. Ela, sempre de olhos brilhantes, era toda elogios a ele, que se sentia o dono do mundo.
Até que depois de um tempo decidiram que não queriam mais viver longe um do outro e resolveram se casar. Estranhamente ela fez questão de todos os trâmites: cartório, igreja cheia, limousine, véu e grinalda, buffet carésimo e lua de mel em...New York. Ele começou a achar um tanto esquisito, mas assim que ela olhava com aqueles olhos...cedia.
Começaram a vida nova no apartamento duplex com varanda que o pai dela lhes dera como presente de casamento. Daí como num passe de mágica de alguma bruxa cruel, tudo passou a ser muito diferente. Todos os dias ela lhe fazia discursos de como ele era largado, sem ambição e precisava assumir responsabilidades como adulto. Queria que abandonasse seu trabalho sem futuro e fosse buscar uma colocação nas empresas de seu pai. Nunca mais quis subir naquela moto imprestável e confessou que detestava trilhas, matas e afins.
Ele, perplexo, resistia pacificamente. A nada respondia, apenas continuava a fazer o que sempre fizera. Isto a exasperava ao máximo. 
Resolveu ela que era chegada a hora de terem filhos,pois esperava que ele, com esta responsabilidade, enfim "crescesse" .Ele que sempre quisera ser pai, aquiesceu imaginando que a gravidez poderia fazer com que ela voltasse a ser a mulher adorável que um dia conhecera. Ledo engano. Parecia possuída por um mau espírito e sua exigências descabidas cresciam mês a mês. Sexo, nem pensar. Nascido o bebê, ele passou a se sentir invisível. A nova mãe apenas se dirigia a ele para cobrar cuidados com o pequeno. Isto passou ele a fazer com prazer, apesar dela nunca ficar satisfeita.
E a vida segue assim, ele esperando que ela volte a ser quem conheceu naquela distante balada, ela tentando arduamente transformá-lo num homem digno de compor sua imagem perfeita de família feliz.

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