quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A Dona Ana Amélia

Houve um dia perdido nas brumas em que uma velha senhora herdou um bebê. Árdua tarefa para suas já cansadas pernas. Seu imenso coração porém disputara a responsabilidade com um clã de fortes mulheres. Vencera. Agora era cuidar, alimentar,ninar, criar mundos de cucas, bruxas,madonas e fadas.
A criança devolveu-lhe as ganas de viver e seus olhos que tantas eras contemplaram lhe mostraram imensidões verdes que um dia iriam compor seus sonhos. Era forte e terna. Terra cabocla e sinhazinha esquecida.Ensinou a menina a ler, abrindo um universo de possibilidades, ensinou-lhe a escrever, a matematicar.
Curiosa que era, tinha explicações conclusivas para tudo: céu, inferno, vida, morte. Ambígua,relanceava benzeduras de seu passado de parteira, meio que escondida de si mesma,ainda que guardiã dos valores religiosos pendia para um dogmatismo autoritário. A alma, porém, era desobediente por natureza, desde que menina apanhara uma surra daquelas do pai para poder ter o direito de estudar como seus irmãos.
Amava a generosidade e praticava a gentileza. A menina encantada cresceu, muitas vezes aterrorizada pelo lobo mau que lhe tiraria seu porto seguro. Ele não conseguiu chegar à floresta e a velha cumpriu sua jornada. Quando seu Mestre veio buscá-la a criança já havia se tornado mulher e mãe. Aprendera a cuidar, a amar, a agradecer e a continuar...

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