segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A janela de Adélia

Poesia sempre me comove, me transpassa, me faz ir mais longe e bem perto... Poesia em tudo até na tramela de uma janela. Adélia faz assim: trevinhos, passarinhos, peixes para limpar, excrementos... Pretextos para saltar para este mundo transfigurado da poesia.


Janela

Janela, palavra linda.
Janela é o bater das asas da borboleta amarela.
Abre pra fora as duas folhas de madeira-à-toa pintada,
janela jeca, de azul.
Eu pulo você pra dentro e pre fora, monto a cavalo em você,
meu pé esbarra no chão.
Janela sobre o mundo aberta, por onde vi
o casamento de Anita esperando neném, a mãe
do Pedro Cisterna urinando na chuva, por onde vi
meu bem chegar de bicicleta e dizer a meu pai:
minha intenções com sua filha são as melhores possíveis.
Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão,
claraboia na minha alma,
olho no meu coração.

Prado, Adélia - Poesia Reunida - São Paulo, Siciliano, 1991

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