quinta-feira, 10 de março de 2011

Na chuva também se vive...


Desde muito pequena amo fazer aniversário. Amo de forma muito peculiar. Gosto de celebrar este renascimento cíclico de forma solitária e recolhida...Nem sempre dá certo. Quando fiz 40 anos fui a Noronha conhecer os golfinhos. Foi maravilhoso, mas solidão e recolhimento que é bom naquele reino de Afrodite...
Agora fazer 50 anos...Meio século ,como insistem em me lembrar. Resolvi que iria sózinha para meu refúgio. Vale do Matutu.
Desta vez não fiz as honras necessárias aos deuses da chuva. Haja água caindo do céu e abrindo sulcos profundos na terra.
A grande árvore continuava satisfeita a eterna conversa com a cachoeira e começava a manifestar suas flores de um rosa forte. As borboletas azuis desviavam magicamente dos infindáveis pingos. Eu, que já sou meio avessa à chuva por aqui, comecei a me arrepender da jornada. Pedia e pedia que estiasse, que aparecesse uma nesguinha de azul. Nada. Chuva de diversas intensidades. Depois de alguma birra e muitos espirros pude perceber que as belezas da paisagem não haviam mudado. Por trás da cortina de água tudo estava lá.
A estrada que liga a cidade ao vale passou a ser um grande problema. As pessoas esperadas para o Carnaval teriam muita dificuldade para chegar. Paulo, o cuidador de todos, estava visivelmente preocupado. Mas de uma forma ou de outra todos chegaram. Cobertos de lama, mas felizes e ilesos.
Poucos se aventuraram nas trilhas e o programa passou a ser ler, assistir filmes no cinema improvisado. Inventamos até um festival de cinema com homenagem especial para meu cachorro emprestado, o Simba. O prêmio acabou sendo o Osso de Ouro... De resto era conversar muito. Contar "causos" e histórias. Eu me deleitei em ouvir e conhecer. Gentes tão surpreendentes...Com muita vida a narrar. Encontros de amor. Mortes na sala de cinema. Discussões teológicas, geográficas e gastronômicas.
Encontrei até um irmão gêmeo que nasceu 3 anos depois e de outra mãe. Foi um reconhecimento imediato. Parecenças piscianas, descobrimos ,encantados, que líamos os pensamentos do outro. Discutimos Tolkien, Neil Gaiman e afins... Bom demais da conta.
Chegou a hora de voltar e começa uma nova aventura... Enduro no Parque do Pico do Papagaio. Subimos seis numa velha Rural, um trator na frente e sacolejamos por duas horas e meia até Aiuruoca. Cantamos durante o caminho para dar forças ao bravo Gilson, o motorista que antes só havia atolado na Amazônia. Valeu cada sobressalto...
Não consegui tomar banho de cachoeira, nem descansar no colo de minha mãe , a velha paineira. Voltei, entretanto, repleta de tantas paisagens e encontros, que tenho certeza que recebi mais do que fui buscar.


2 comentários:

Anônimo disse...

Simba lindo! :)

beijos, Lili.

Gabriel disse...

Cada lugar tem sua mágia e não importa se chove ou não, elas sempre estará lá (:

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