segunda-feira, 14 de março de 2011

É dia da Poesia



Houve um dia em que fui levada a um reino mágico pelo Senhor da Floresta. Lá aprendi a caminhar segura por entre as árvores, a atravessar riachinhos reais e imaginários. Visitei cachoeiras de duendes. Fiz amizade com uma velha árvore já destruída por um raio, que se entregava tranquila à terra daquele monte.
Numa destas caminhadas alguém me leu um poema de Alberto Caieiro. Eu, que até então preferia Álvaro de Campos, fiquei comovida...Parecia falar daquele lugar e situação. Poesia e natureza caminham descuidadamente de mãos dadas. Quem leu, só leu... Certo é que Caieiro desde então tem sido meu amigo e o Pastor Amoroso minha canção.

O Pastor Amoroso

I

Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo.
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima...
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor —
Tu não me tiraste a Natureza...
Tu mudaste a Natureza...
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.

Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.
Só me arrependo de outrora te não ter amado.

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