quinta-feira, 5 de abril de 2012

Tudo acontece para o melhor

Histórias de diversas tradições trazem diferentes formas de pensar e viver as coisas boas e difíceis de nossa caminhada. A que se segue faz parte de uma coleção de contos hindus e nos sugere uma postura um tantinho complicada de se aplicar, mas que pode trazer grande sabedoria.










Tudo acontece para o melhor

Um certo príncipe, depois da morte do pai, herdou o reino e uma grande fortuna em ouro. Isso ele gostou - gostou bastante. O que ele não via com bons olhos era o fato de ter herdado também um velho ministro de seu pai.
Não que o ministro atrapalhasse a vida de festas e prazeres do jovem rei, mas é que ele estava sempre tão sério quanto um velho gato; sua presença era o suficiente para dissipar completamente o alegre espírito do rei e de seus companheiros.
Além disso, o velho ministro tinha o hábito de murmurar constantemente: "Tudo o que acontece, acontece para o melhor, se soubermos como aceitá-lo".
Isso irritava profundamente o rei: "Como é possível que um forte resfriado ou uma queda de cavalo possa ser bom, sem falar em ' o melhor' ?", perguntava ele a seus confidentes e dizia:
" A lógica do ministro. através do longo uso, tornou-se tão embotada como sua cabeça velha e calva e, assim, é inclinado a aceitar tudo o que vem, sem protestar, afirmando para si mesmo que tudo acontece para o melhor!"
Mas o rei não podia permitir que ele permanecesse tão simplório. Assim concluiu que algum evento excitante, tal como um passeio estimulante na floresta, seria bom para arejar a cabeça do velho companheiro de seu pai.
Assim, um dia pediu ao ministro que se juntasse a ele na caravana que iria caçar.
"Muito bem", disse o ministro como sempre.
Parecia que não seria um dia muito auspicioso. Nuvens pesadas e escuras surgiram no horizonte quando o grupo iniciou a jornada. O príncipe pensou que elas seriam varridas pelo vento. Mas justamente quando estavam na floresta, um forte vendaval partiu o galho de uma grande árvore que veio caindo, caindo, até desabar sobre o próprio rei. Felizmente, ele escapou com apenas um pequeno corte na testa.
Não obstante, gritou de horror. E, ainda por cima, os guardas e os cortesões fizeram tal alarido que centenas de chacais, perto de um arbusto, juntaram-se à confusão.

O ministro, no entanto, sorriu e consolou o rei dizendo:
" Não fique perturbado, meu jovem senhor! O que acontece, acontece para o melhor!" e acrescentou: "Tudo o que tem que fazer é aceitar todas as coisas no espírito certo".


Nunca antes estas palavras enfadonhas, tinham soado tão sinistras como então. O rei tremeu de raiva e ordenou a seus homens para amarrar o ministro e jogá-lo dentro de um buraco e gritou ironicamente alegre:
" O que acontece, acontece para o melhor, não é? Agora prove a sua própria teoria. Adeus!"

O rei e seus homens não tinham andado muito quando um temporal desabou, seguido de um pesado aguaceiro. Ouvia-se terríveis estrondos de trovões e algumas árvores, abatidas por raios, caíam diante do grupo. Em pânico, os homens correram na confusão, deixando o rei sozinho.
De repente, o rei foi cercado por uma gangue de bandidos. Nas profundezas da selva, a gangue tinha a sua própria crença e seus costumes. E dentre estes costumes, eles tinham o estranho hábito de sacrificar um ser humano no altar da divindade deles, num certo dia do ano. E  este dia tinha chegado!
O rei tentou escapar, mas ele não tinha forças para enfrentar sozinho os marginais. Foi capturado e levado para o santuário deles. Estava para perder a vida, quando os bandidos observaram a ferida em sua testa. Desapontados, mandaram-no embora, pois os rituais exigiam que o homem a ser sacrificado não tivesse uma única ferida recente em seu corpo.
Logo a chuva parou, O rei descobriu que estava no coração da floresta e tentou se orientar para achar o caminho. Quando seus homens finalmente o encontrar, estava atordoado e muito faminto. Grande foi a alegria de todos.
O rei, exausto, sentou-se numa rocha e mandou alguns de seus homens libertar o ministro.
Logo o velho surgiu, calmo como sempre. O rei o abraçou e prorrompendo-se em lágrimas, disse:

"Ó meu sábio ministro, agora compreendo a verdade de suas palavras. Teria sido morto se não fosse  a ferida na minha testa. Pode perdoar-me pelo desrespeito que tive por você?"
"Esteja certo, meu nobre senhor, que o que quer que aconteça, acontece sempre para o melhor. Eu vi os bandidos, mas eles não podiam me ver porque estava no buraco. Se tivessem me visto, certamente teriam me levado e agora minha cabeça e tronco não estariam mais juntos"...

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