Que poesia traz beleza traz graça e beleza à caminhada creio que muitos sabem. Que os poetas abrem portais para o sublime e para o sagrado também não é segredo algum. Mas a sensação de mergulhar na palavra e navegar nas estrofes é sempre surpreendente. Minha mestra querida, Elisa Lucinda, volta a São Paulo para dar mais uma oficina. E mais uma vez terei o prazer e a honra de experimentar esta maravilha. Só para degustação, um poema de seu livo " A Fúria da Beleza". Precisa mais?
Convite
Vamos meu amor
nos encontrar às escondidas dos nossos inimigos?
Vamos, vamos, meu amigo,
nenhum deles saberá!
Vamos, de um jeito sagaz, armar,
de modo que o rancor não encontre coleguinha,
ressonância, par?
Vamos nos articular, pianinho,
de modo que o orgulho, esse "ervo daninho",
se sinta sozinho e sem lugar?
Vamos combinar de nos encontrar tão gostoso,
de modo que o garboso, bobo, inútil orgulho,
aquele que sempre superior se sente,
se veja ali, sem ambiente?
Vamos, meu amor,
o amor arapucar,
de modo que a mesquinharia sinta logo que errou de ponto,
que falhou de lugar?
Vamos meu amor, meu cúmplice,
nos organizar,
pois que a gosma do ressentimento perceba logo
que se enganou de bar?
Vamos logo, amor, para um bom lugar, onde a razão conceda ao perdão
o poder do sol,
que é o de iluminar?
Sem aqueles demais, só com nós dois
e em paz,
vamos rir,
rir de amor,
de puro amor,
vamos rir de chorar?
Vamo amor?
Sampa, outono de 2005
Lucinda, Elisa - A Fúria da Beleza - Rio de Janeiro: Record,2008
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