quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Monges e estrelas

Histórias e caminhos espirituais andam, quase sempre, de mãos dadas. Mestres de diversas tradições se valem deste recurso para ilustrar as verdades que desejam transmitir. Talvez porque tocar os Mistérios só se torne possível através de imagens que falem mais diretamente à alma do que ao intelecto. Esta é da Tradição dos Padres do Deserto.



Eu também sou monge, e a pergunta que realmente queria fazer era, "O que é um monge?" Bem, acabei fazendo a pergunta, mas como resposta, obtive uma outra pergunta, bastante estranha: "Você quer dizer de dia ou de noite?" E agora, o que poderia significar isso?
Como não respondi, ele retomou o assunto:
- Um monge, como todos, é uma criatura de contração e expansão. Durante o dia ele está contraído; atrás dos muros do claustro, vestindo um hábito igual ao dos demais, executando as tarefas de rotina que se espera que um monge realize. À noite, porém, ele se expande. Os muros são incapazes de contê-lo> Ele se move pelo mundo e toca as estrelas.
"Ah", pensei eu, "poesia." Para trazê-lo de volta à terra, comecei a perguntar:
- Bem, durante o dia, em seu corpo verdadeiro...
- Espere - ele me interrompeu - Esta é a diferença entre nós e você. Você costumam supor que o estado contraído é o verdadeiro corpo. E é, de fato, em certo sentido. Nós aqui, porém, tendemos a partir do outro extremo, o estado expandido. Ao estado diurno nos referimos como o "corpo do medo". E enquanto vocês julgam um monge por seu decoro durante o dia, nós tendemos a avaliar um monge pelo número de pessoas que ele toca à noite e pela quantidade de estrelas.

Histórias da alma; Histórias do coração: parábolas e narrativas co caminho espiritual e na contemporaneidade. São Paulo: Pioneira,1994.

Foto tirada por Flávio Gago do céu do Matutu em noite de Lua nova.
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