domingo, 3 de julho de 2011

Os Karamazov e eu


Há alguns dias lembrei-me de como se iniciou minha fase "russa', que perdurou por toda a minha adolescência e deu origem à série perpetuada por meu filhote Lucas. No meu aniversário de 9 anos meu querido e saudoso irmão resolveu me dar um presente. Coisa rara para ele que começara a trabalhar por aqueles dias. Como não tinha ideia do que dar para uma menininha que amava bonecas e carrinhos de rolemã, passou na banca de jornal e comprou o primeiro volume da coleção de clássicos que a Abril Cultural acabara de lançar. Pois bem , o tal livro era nada menos do que "Os irmãos Karamazov", um romance escrito em 1879 por Fiódor Dostoiévski. Como meu irmão era simplesmente meu ídolo resolvi começar a ler no mesmo dia. Confesso que não entendi absolutamente nada. Fechei o livro e dediquei-me às coisas mais apropriadas à minha idade. De tempos em tempos tentava de novo e nada. Até que do alto dos meus 13 anos eu consegui. Apaixonei-me perdidamente por Aliéksiei, apesar de gostar bastante de Dimitri também. Daí por diante passei a ler outros livros dele, mais leves admito, como " Noites brancas" e " O eterno marido" que já faziam parte da biblioteca de casa. 
Quando fui para o Caetano de Campos deparei-me com uma imensa biblioteca e conheci Tolstói. Li as 1600 páginas de " Guerra e Paz" com um prazer infinito. " Anna Karenina" li apenas o primeiro volume porque não queria, de forma alguma, aceitar sua morte no final. 
Com o tempo meu encantamento foi diminuindo, até que Hesse e outros me conquistaram definitivamente. Mas  um dia veio meu pequeno Lucas que do nada manifestou curiosidade com a língua e se tornou este " russo" perfeito que traduz hoje " Memórias do Subsolo" para uma nova edição e já me prometeu que irá traduzir "O eterno marido". 
O livro que me deu meu irmão eu perdi entre tantas mudanças. Ontem, porém, fui tomar um café num lugarzinho adorável chamado " Flores da Varanda" ,  café, floricultura e outras coisas mais. Dei de cara com o livro, igualzinho ao meu presente de então. Apesar de ser um lugar que tem livros antigos, eles não costumam vendê-los. Contei minha história à dona e a convenci que precisava muito daquele  livro que, sincronicamente, voltou para o meu caminho. Agora, tantos anos depois, vou revisitar os Karamazov. Quem sabe o que poderá vir disso?

Um comentário:

Cristina Balieiro disse...

Ca, que texto adorável sobre nossos amados amigos, os livros!
Cris

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