Minha mãe, mulher de tantos véus,
Perdida por entre as brumas da morte
Sonhou-me.
Tal sonho penetrou cada espaço de sua vida.
Era triste? Não o sei
Era amada? Dizem
Amava? Intensamente
Esta sua imensa possibilidade de amar,
Este anseio me foi transmitido nas
Gotas de seus fluidos.
Esvaziou-se da vida para parir seu sonho.
Eu, a sonhada.
Eu, o sonho.
Não a compreendi, em absoluto.
Senti o vazio,
Frio abandono em sua partida prematura.
Perscrutava desde cedo seus olhos nas poucas fotos.
Nada via...
Nada percebia...
Teceu-me ela para a vida,
Plena de dores, surpresas e descobertas.
Teceu-me, sobretudo, para o amor
Pelo qual tanto ansiou
Eu, sonho sonhado sonhei
Assim que meus olhinhos se abriram
Olhos velhos de quem espera
Espera o sonho
Por tantos cenários oníricos vivi
Sonâmbula
Incorpórea
Cresci esperando e desesperando
Certo dia, encontrei o sonho,
Não o reconheci de imediato,
Minha alma o sabia,
Tão distante
Tão palpável
Temi.
Por entre a torturante densidade
Do Destino fugi.
Adormeci.
Longo exílio
Anos e mais anos de aridez e desencanto,
Ilusões me prendiam,
Histórias vãs me comoviam.
Eu, perdida do sonho, vaguei
Como uma folha levada pelos ventos.
Mas minha mãe Maya sonhou.
Com a força de seu sonho
Entoou a canção através dos tempos.
Eu, enfim, acordei.
Acordei dentro do sonho,
O sonho para o qual fôra sonhada.
Tão real que todo o meu corpo vibrou
Transpassado pela vida
Estava lá
Sempre e sempre
Maio do que jamais pudera imaginar
Fascinante e belo
Aquele que me fôra reservado no
Pulsante peito da sonhadora:
O Amor!
Um comentário:
LINDO!!!!
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