domingo, 10 de abril de 2011

Clarice e uma sereia...


Amo Clarice Lispector. Certa feita ganhei um livro de uma amiga e o deixei guardado por tempos na estante. Adoro descobrir livros "esquecidos" pois sempre tenho a sensação de que aparecem na hora mais necessária. Este em especial fala do amor entre uma "sereia", Loreley e Ulisses, um arguto professor de filosofia. Trata dos medos da entrega, da descoberta de um outro totalmente diverso, da possibilidade da palavra como criadora de pontes entre mundos. Foi uma leitura intensa e transformadora. "Uma Aprendizagem ou O livro dos Prazeres" passou a ser parte importante de minha Constituição interna.


Oração de Loreley

Alivia a minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que me lembre de que também não há explicação porque um filho quer o beijo de sua mãe e no entanto ele quer e no entanto o beijo é perfeito, faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma também incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para que eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana para apertar a minha, amém.



Um comentário:

Anônimo disse...

amiga,
que presente ler Clarice hoje.
bjs
helena

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