Pouco antes de morrer, aos 99 anos, minha avó me contou que sonhara com seu primeiro e, segundo ela, verdadeiro amor. Chamava-se Sebastião, como aquele rei português que desapareceu numa batalha e cuja volta messiânica foi esperada por séculos. Pois minha avó, cuja alma também era portuguesa, me confessou ter amado em silêncio aquele jovem por mais de 80 anos. Digo jovem porque assim ela o descrevia, rememorando cada momento que passaram juntos escondidos de meu bisavô. Fazendeiro rude, não queria ter filhas que pensassem em estudar e muito menos que escolhessem com quem casariam. Assim foi e Ana se casou com Antônio, com ele teve seus filhos, com ele trabalhou arduamente para sustentá-los, sempre o respeitando mas jamais amando. Quando ele morreu numa epidemia de tifo ela já tinha mais de 50 anos e não quis mais casar-se , apesar de por vezes sentir-se solitária. Agora próxima da última travessia sonhava com aquele amor perdido no tempo. Perguntei-lhe se alguma vez tivera alguma notícia dele, ela disse que nunca e que preferia mantê-lo assim, como havia sido, jovem, belo e apaixonado. Sabia que já deveria ter ido embora há muito. Não importava, dentro dela seguia o mesmo, amado até a sua morte.
Um comentário:
às vezes nem precisamos de histórias fictícias... as reais também podem ser lindas demais.
beijos.
Lili
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