Ela tinha belos olhos que brilhavam intensamente quando por alguma felicidade repentina.Foi precisamente estes olhos encantados que ao conhecê-la tocaram o coração dele. Se eram brilhantes, para ele surgiram com a força de um novo Sol. Até aquele momento do Encontro sentira-se um tanto insignificante, mas ao ver-se refletido naqueles espelhos límpidos vislumbrou-se Rei e deles se enamorou perdidamente. Ela, por sua vez, sentiu que chegara o momento que tanto esperara para enfim, amar alguém de corpo e alma.
Viveram felizes por uns tempos...
Ele aos poucos se acostumou a ser visto como mais do que se sentia e começou a se imaginar tão grandioso quanto os olhos dela lhe mostravam. Resolveu sair pelo mundo para testar seus novos poderes. Foi tanto trabalho a fazer, tanto atraso, tanto esquecimento, tanta desculpa, tanta desatenção...Voltava sempre para os bons olhos que a tudo pareciam perdoar.
Ela a nada compreendia, esperava dias que não voltavam e chorava, lamentava em silêncio sua solidão cinzenta. Seus olhos ficaram baços, mas sempre ansiavam por aquele que acreditava lhe trariam a antiga luz. Um restinho de brilho era reservado para ele que acabava por voltar necessitado de sua imagem cintilante para continuar suas aventuras.
Certo dia ela percebeu-se com uma vontade imensa de visitar outras terras, de deixá-lo para trás, de não mais esperar por dias que não mais voltariam. Assim fez e seus belos olhos voltaram ávidos a contemplar novos e velhos mundos. Alimentaram-se de belezas e amplidões... Sem se dar por isso retomaram seu esquecido esplendor.
Quando se reencontraram, ele pressentiu que algo havia mudado, não saberia precisar o quê. Um vazio foi se instalando sorrateiro. Era o fim. Ela não mais o olhava com aquele fascínio que o alimentara por tantas aventuras. Partiu só e opaco como sempre havia sido.
Ela, sentada às margens do Sena, toma preguiçosamente seu café e sorri...
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