Quando fiz o curso de "dizedora" de poesia com a maravilhosa Elisa Lucinda, uma das poetas mais lidas foi Adélia Prado. Eu mesma, encantada com Pessoa que sou, comecei por um poema de Adélia. Simples e atenta aos detalhes sutis do cotidiano suspende o véu da dura realidade e cria mundos. Das pequenas flores do mato às escamas de um peixe a ser limpo, revela a beleza inerente a cada coisa. Caminha segura entre os céus e infernos do ser, sempre a conversar, questionar e louvar seu Deus. Alimento para a alma nesta bela manhã de domingo.
Cólera divina
Quando fui ferida,
por Deus, pelo Diabo, ou por mim mesma,
- ainda não sei -
percebi que não morrera, após três dias,
ao rever pardais
e moitinhas de trevo.
Quando era jovem,
só estes passarinhos,
estas folhinhas bastavam
para eu cantar louvores,
dedicar óperas ao Rei.
Mas um cachorro batido
demora um pouco a latir,
a festejar seu dono
- ele, um bicho que não é gente -
tanto mais eu que posso perguntar
Por que razão me bates?
Por isso, apesar dos pardais e das reviçosas folhinhas
uma tênue sombra ainda cobre meu espírito.
Quem me feriu perdoe-me.
por Deus, pelo Diabo, ou por mim mesma,
- ainda não sei -
percebi que não morrera, após três dias,
ao rever pardais
e moitinhas de trevo.
Quando era jovem,
só estes passarinhos,
estas folhinhas bastavam
para eu cantar louvores,
dedicar óperas ao Rei.
Mas um cachorro batido
demora um pouco a latir,
a festejar seu dono
- ele, um bicho que não é gente -
tanto mais eu que posso perguntar
Por que razão me bates?
Por isso, apesar dos pardais e das reviçosas folhinhas
uma tênue sombra ainda cobre meu espírito.
Quem me feriu perdoe-me.
Um comentário:
Maravilhosa Adélia!
beijos, da Lili
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