Os três cabelos de ouro
Uma vez, numa noite escuríssima e trevosa, o tipo de noite em que a terra fica negra, as árvores parecem mãos retorcidas e 0 céu é de um azul-escuro de meia-noite, um velho vinha cambaleando pela floresta, meio às cegas devido aos galhos das árvores. Os ramos arranhavam seu rosto, e ele trazia um pequeno lampião numa das mãos. A vela dentro do lampião tinha uma chama cada vez mais baixa. O homem tinha os cabelos amarelos e compridos, dentes amarelos e rachados e unhas amarelas e recurvas. Ele andava todo dobrado, e suas costas eram arredondadas como um saco de farinha. Sua pele era tão vincada que caía em folhos do seu queixo, das axilas e dos quadris.
Ele se apoiava numa árvore e se forçava a avançar; depois se agarrava numa outra para avançar mais um pouco. E assim, remando desse jeito e respirando com dificuldade ele ia atravessando a floresta.
Cada osso nos seus pés ardia como fogo. As corujas nas árvores piavam acompanhando o gemido das suas articulações à medida que ele seguia pelas trevas.
Dentro da casa, uma velha estava sentada diante de uma bela fogueira e ela se apressou a chegar até ele, segurou-o nos braços e o levou mais para perto do fogo. Ela o abraçou como' uma mãe abraça o filho. Ela se sentou na cadeira de balanço e o embalou. E ali ficaram os dois, o pobre e frágil velhinho, apenas um saco de ossos, e velha forte que o embalava.
— Pronto, pronto. Calma, calma. Pronto, pronto. Ela o embalou a noite inteira e, quando ainda não havia amanhecido mas estava quase chegando a hora, ele estava extremamente remoçado. Ele era agora um belo rapaz, de cabelos dourados e membros longos e fortes. Mas ela continuava a embalá-lo.
— Pronto, pronto. Calma, calma. Pronto, pronto. E quando a manhã foi se aproximando cada vez mais, o rapaz foi se transformando numa linda criancinha com cabelos dourados trançados como palha de milho.
No momento exato do raiar do dia, a velha arrancou bem rápido três fios da linda cabeça da criança e os jogou nos ladrilhos. Eles fizeram um barulhinho.
Tiiiiiing! Tiiiiiiing! Tiiiiiiiiing!
E a criancinha nos seus braços desceu do seu colo e saiu correndo para a porta.
Voltando o rosto por um instante para a velha, o menino deu um sorriso
deslumbrante, virou-se e saiu voando para o céu para se tornar o brilhante sol da manhã.
4 comentários:
É uma das minhas preferidas... Um dia mandei esta para levantar o astral de uma pessoa valiosa...como havia me levantado quando a li pela primeira vez...
Beijão
Adoro suas histórias, Cássia!
Beijo,
Talitha.
que INCRÍVEL!!! que coisa linda...
acabei de ler essa história mesmo com um "Ahhh" bem comprido e um grande sorriso! Obrigada...
beijo
Bel
Que incrivel...consegui ouvir sua voz contando, cantando e incantando.
Bjs
Lisa
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