Athena, foi a deusa que nasceu de dentro da cabeça de seu pai, o grande Zeus. O senhor do Olimpo teve uma dor de cabeça tão insuportável que pediu a Hefesto que a abrisse com uma machadada. Lá de dentro saltou já adulta, armada com uma lança e dando um grito de guerra. Passou a ser considerada a filha do Pai, a única que podia até usar seus raios.
Da mãe parecia não ter registro algum, mas o certo é que seu pai antes de se casar com Hera teve uma união com Métis, a mais sábia dos imortais. Quando ela engravidou, houve uma profecia que dizia que a deusa daria à luz dois filhos: uma menina muito forte, sábia e guerreira e um segundo filho, que por seu coração amoroso suplantaria em muito o poder do Pai, inaugurando uma era de paz para a humanidade.
Zeus, para não correr riscos, tratou logo de criar um estratagema e engolir sua esposa grávida. Ele que escapou por pouco das entranhas de Cronos, seu pai. Resolvido o problema lhe sobreveio a tal dor de cabeça. Nascida Athena ficou conhecida como tendo sido gerada apenas pelo Pai. Não teve mãe, não teve infância, não teve relacionamentos amorosos. Era uma estrategista brilhante que protegia seus guerreiros escolhidos. Figura determinante na famosa Guerra de Tróia.
Tenho grande desconfiança dos mitos em que é possível ao masculino gerar o feminino. Inverte-se a ordem das coisas. A mãe foi totalmente esquecida. Apesar da força Athena foi completamente submissa ao poder do Pai. Deve ser honrada pois abre as portas do conhecimento às mulheres, mas lhe falta a sabedoria dada pelos processos cíclicos de um corpo feminino. Faz-se necessário buscar Métis, arrancá-la das entranhas deste patriarcado em que vivemos. Quem sabe ainda nasce um filho que aponte um novo caminho nos relacionamentos humanos. Um caminho em que as diferenças sejam tratadas amorosamente e em que o amor seja mais importante que o poder.
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4 comentários:
Concordo com sua desconfiança com relação aos mitos, mas discordo dessa leitura que diz que o masculino gerado pelo feminino seria uma "inversão das coisas": ao contrário, a idéia do feminino como fonte geradora, de fertilidade, atende a um ideal patriarcal, que tende a mistificar a mulher, reduzindo-a às funções de reprodutora e trabalhadora do lar.
Com as mullheres introduzidas no mercado de trabalho o "mito do feminino" fica ainda mais sem sentido, ainda que sirva pra justificar mulheres com jornada dupla de trabalho, sobrecarregadas de funções e com salário reduzido em relação aos parceiros.
Athena como "filha direta" do pai tem um conteúdo ainda mais revolucionário do que teria o tal filho paz e amor que o substituíria (aqui o mito cristão nos socorre pra ver que um deus do Amor pode desembocar instituições ainda mais cruéis que as geradas pelo Zeus devorador de mulheres...). Ela não passa pela figura oprimida da mãe, e se recusa a se submeter aos papéis sociais que pesavam sobre as mulheres de então, dedicando-se à sua arte com maestria.
A deusa das artes e da guerra... e não foi onde tudo começou, quando as mulheres tiveram que ocupar o lugar dos homens nas fábricas enquanto eles combatiam nas Primeira e Segunda Guerras?
Quando digo que discordo é porque os mitos em última análise são inscritos nos eventos corporais e até onde sabemos a mulher é sim geradora da vida. Não vejo em que isto poderia oprimí-la. O masculino não pode gerar sózinho, nem o feminino.O mito grego surge para legitimar o patriarcado.
Athena é libertadora se olharmos para o acesso das mulheres ao conhecimento e à cultura.Portanto uma arquétipo a ser honrado.
Entretanto ficar num mundo alijado das relações humanas não traz revolução alguma.O patriarcado assume formas ainda mais devastadoras em que a ilusão de liberdade afasta a possibilidade de igualdade em todos os níveis.
Imitar o modelo do Pai nos tirou de uma prisão para colocar em outra.
Estou lendo "Mulheres que andam com os lobos" por sua indicação. Sensacional. Assim como seus textos. Obrigada por partilhar-se conosco.
Muito obrigada, Ana Carla! É um prazer tê-la como leitora. Um grande abraço...
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