quinta-feira, 3 de março de 2011

Fui-me embora para Pasárgada


Quando estudava no Caetano de Campos da Praça da República, uma destas companhias de teatro que visitam as escolas, apresentou uma peça toda de poemas de Manuel Bandeira. Fiquei tocada, apesar das distrações da adolescência. Um dos que mais mexeu comigo foi o célebre " Vou-me embora pra Pasárgada". A idéia de que existe um lugar mágico onde minha alma se sentiria acolhida me fisgou.
Muitos anos depois, já apresentando sinais de cansaço na jornada e perdido alguns sonhos e ilusões, fui convidada para fazer um Encontro no fim do mundo. Um lugar que nem constava dos mapas, como disse preocupado o pequeno sobrinho de uma das participantes. Fui meio que desavisada. O caminho é longo, cheio de curvas e dificuldades. Viajar em grupo é sempre um tanto complicado, invariavelmente alguém se desvia do caminho. Horas na estrada, enjôos na serra...Percebi que estava indo para Avalon e as brumas precisavam ser levantadas magicamente. Nunca é tranquilo lá chegar.
Entretanto, no momento em que passei a porteira e atravessei o riachinho que dá passagem para a pousada a beleza do lugar me enfeitiçou. Esqueci todas as complicações da viagem e passei a explorar, atenta, cada quadro da paisagem que chega a machucar os olhos de tanta grandiosidade. De longe avistei a Paineira, uma velha senhora de mais de trezentos anos, que conversa há séculos com a cachoeira ao longe. Meus olhos se encheram de lágrimas ao reconhecer um ser tão antigo e poderoso que, pela ganância dos homens, quase virou gamela.
Senti que havia encontrado o refúgio perdido dos meus anseios de adolescente. Meu lugar de comunhão e nutrição. A casa de minha Mãe.
Agora que vou terminar mais um ciclo, escolho partir só e celebrar meu aniversário longe de meus queridos daqui. Descontentamentos se deram. mas sinto que é necessário silenciar, contemplar, refazer as forças no colo da árvore, nas trilhas com o grande cão Simba, nas gentilezas do Paulo e do Cândido...
Vou-me embora pra minha Pasárgada
Lá sou rainha de mim mesma
Lá nada mais desejo
Do que a beleza em que nutrirei...
















2 comentários:

Clarissa Barth disse...

Fiquei, mais uma vez, sem palavras...
Apenas isto: que o teu novo ano seja mágico e cheio de luz. Beijos daqui!

Itamar disse...

Lindo Cássia!


Só não vou junto prá não te atrapalhar, mas que deu vontade.......deu!

Delícia de Blog,

Parabéns

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