quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Maya

Chegamos de novo à quinta feira. Dia de histórias...
Não me lembro da primeira vez em que ouvi este conto, nem da pessoa que contou. A história em si foi tão tocante que passeia a contá-la tão logo tive oportunidade. Li e ouvi várias outras versões, todas muito belas. Com a licença poética dada aos contadores permito-me apresentar a minha
"Maya e Narada":

Num tempo em que não era tempo, caminhava pela Índia um homem santo chamado Narada que era fervoroso devoto de Vishnu, o deus que a tudo mantém. Ao morrer o sábio foi-lhe dado conversar face a face com o deus. Vishnu, que amava muito aquele homem tão piedoso, concedeu-lhe a honra de perguntar o que desejasse. Mais que depressa Narada confessou que gostaria que lhe fosse dado entender o que é Maya, indagação que há muito tempo lhe angustiava a alma.
O deus lhe respondeu que tal conhecimento era expressamente vedado aos homens,mesmo os deuses não tinham total compreensão de Maya. Narada inconformado, tanto pediu, tanto insistiu que Vishnu mostrando-lhe um lago que estava bem ao lado de onde conversavam, lhe ordenou:
-Vai e mergulha neste lago!
E o homem santo assim o fez.
Nasceu uma bela menina, filha de um poderoso rei e de sua amada rainha, que há muito desejavam uma filha, uma vez que tinham sete filhos, todos homens belos e fortes. A menina cresceu cercada de todo amor, cuidados e riquezas. Cada minímo desejo seu era prontamente satisfeito e ela não conhecia tristeza, dor ou frustação. Tornou-se uma belíssima jovem, gentil e de bom coração. Ao chegar a idade de casar-se foi apresentada ao príncipe do país vizinho que lhe fora prometido. Era o mais belo, forte e corajoso. Assim que se viram foram tomados de profunda comoção, apaixonaram-se completamente. Casaram-se e viveram dias de intensa felicidade. Tiveram muitos filhos e filhas.
Logo seu marido tornou-se rei e reinou com bondade e justiça. Mas ventos sombrios sopraram por aqualas terras. Houve um grande desentendimento entre o rei, seu pai e o rei ,seu marido, dando início à uma guerra sangrenta. Do campo de batalha chegavam sucessivamente notícias das mortes de seus queridos: o irmão mais velho, o filho do meio, o pai, mais um irmão, outro filho, o marido...Até que desesperada a rainha resolveu ir até o lugar onde se travava a luta e chegou a tempo de ver seu filho mais jovem, o mais querido, ser transpassado pela lança de seu irmão amado. Tomada de intensa dor a rainha tomou seu filho aos braços e caminhou para a pira funerária do campo entregando-se às chamas.
Neste momento Narada saiu do breve mergulho no lago.
Vishnu lhe disse:
- Esta é minha Maya!

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