Houve um dia em que encontrei um girassol. Foi um encontro inesperado, eu buscava flores para trazer graça e beleza às mulheres que iriam atravessar aquele rio comigo.
Assim que o vi entre tantos vasos ele me enfeitiçou. Era diferente de todos os outros, tinha um brilho especial. Hipnotizou-me.
Eu o comprei, coloquei em meu colo e trilhamos um longo caminho a nos olhar embevecidos. Enamoramo-nos. Era belo! Era forte!
Minha companheira de travessia logo percebeu nosso namoro: " Ele parece que fala com você!"
Ao chegar no local do Encontro de mulheres eu arranjei um lugar de honra para meu novo amor, para que Ele com seu poder solar nos trouxesse sua força vital.
A cada instante eu o contemplava, orgulhosa. Era o Meu girassol. Só Meu.
As mulheres começaram a chegar e unânimes teciam elogios a sua beleza:
" Que girassol maravilhoso!"- dizia uma.
"É lindo!" - acrescentava outra.
"Parece ter luz própria!"
Eu balançava a cabeça a concordar feliz.
Meu amor impressionava a todas.
Muito vivemos naquele dia: de história em história, de dança em dança, com risos e lágrimas caminhamos para mais perto de nós mesmas.
Ele, de seu lugar, a tudo observava em silêncio por mim apaixonado.
Na despedida, eu já com ele em meus braços, uma das mulheres me diz:
" Você vai me dar este girassol?!"
Eu, aturdida pela pergunta inconveniente:
"Como? Eu dar o Meu girassol?!!De jeito nenhum. Nós nos amamos!"
Ela insistindo;
"Por favor!!!"
Eu, começando a ficar brava:
" Você não entendeu. Olhe para ele. EU O ENCONTREI. Estamos encantados um pelo outro. ELE É MEU!!!"
Assim prosseguiu a discussão por um tempo, até que ela vencida disse:
" Bem, quando ele morrer você me manda as sementes para eu plantar?"
Senti naquele instante um fio de dor percorrer minha alma diante da dura realidade. Eu o levaria para um apartamento onde duraria uma semana ou duas. Sua luz se apagaria lentamente, sua beleza murcharia e só lhe restariam as tais sementes que eu jamais plantaria.
Ela , a usurpadora, o transplantaria em seu quintal onde teria boa terra e muito Sol. Ele seguiria vivendo e produzindo...
Eu o olhei ainda uma última vez: altivo, luminoso, pleno de vida. Com lágrimas nos olhos o entreguei para que sua força e beleza se perpetuassem para além de mim.
Talvez naquele momento eu tenha sido visitada pelo verdadeiro amor...
Um comentário:
Cat's,
Lembrei-me desta história ao lê-la. Mas, ilustrado por suas palavras, o Girassol soou ainda mais sagrado. Para mim, é você quem o perpetua! Obrigada!
Paula
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