Há alguns dias encontrei uma amiga querida e ficamos nos deliciando em lembrar poemas. Alguns que tínhamos encontrado quando adolescentes e outros nos quais esbarramos pela intensa vida que vivemos. Piscianas apaixonadas pela Palavra e pelo Amor. Revisitamos Pessoa, Neruda... Hoje amanheci com um gosto de poesia e terra na boca. Relembrei Caieiro...
Se eu pudesse trincar a terra toda (7-3-1914)
XXI
Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
E se a terra fosse uma coisa para trincar
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...
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