sexta-feira, 2 de março de 2012

Afrodite se revela...







Até aquele dia ela tinha certeza de que era uma mulher como as outras, comum e mediana. Caminhava anônima pelas ruas sem que ninguém a notasse. Nem particularmente bela, nem assumidamente feia. Vaidades não costumava cultivar. Econômica em gestos, palavras e olhares beirava à invisibilidade confortável dos semelhantes. Talvez se ela não tivesse se atrasado uns minutos sua vida seguiria assim indefinidamente. Mas naquela sexta-feira, como tantas outras, chegou à plataforma do trem para o trabalho alguns segundos antes das portas se fecharem. Hesitou entre arriscar e esperar. De repente percebeu aqueles olhos, intensos e perscrutadores, que a fitavam como se estivessem vendo uma aparição da Deusa.  Estacou e sentiu vibrar cada célula do seu corpo como se tomada por um raio. Sentiu-se bela, poderosamente bela. Magnética. Não saberia precisar a eternidade daquele instante. A porta se fechou, o trem se foi e ela, possuída por sua própria divindade, nunca mais foi a mesma...

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