Certa vez fui a uma palestra do Rubem Alves. Quando se depara com alguém que você já leu por demais, fica estranho conversar, falar, tocar então... Eu depois da fala levei um livro para que ele autografasse e timidamente agradeci por toda cura que ele já havia me oferecido. Perguntei ao mestre, um tanto relutante: "Você acredita que beleza cura?" Ele sorriu e me respondeu ternamente que sim.
Tempos depois me deparei com esta grandiosidade chamada Elisa Lucinda que leva a beleza às últimas consequências , penetrando, assolando , construindo paisagens e infinitos mundos que se desvelam através da palavra, da poesia. Em seu livro " A Fúria da Beleza" ela fala:
Vaidade
À tarde que me seduz,
o parado sonso do vento
nas árvores, estátuas de verde
prateadas por um só fio filete de luz,
rendida estou e
sou dela refém.
Transito em seu planeta.
Levito parada feita a paisagem.
É que eu também dela sou paisagem,
e faço agora, de cabeça,
versos que só escrevi depois.
Há muitos anos a tarde me sequestra, ora pois!
Há inúmeras cigarras esta orquestra me detém e liberta!
Sob seu sovado me leva,
sou seu pão.
O que ninguém sabia até então,
nem eu,
é que este pão,
o famoso gostoso pão da tarde,
o das tardes frias,
o das tardes quietas,
o das tardes quentes e
o das tardes inquietas,
é feito da carne do trigo do olhar do poeta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário