Amo geminianos. Talvez sejam minha sina. São inteligentes, divertidos e sobretudo imprevisíveis. O primeiro que me enfeitiçou não conheci pessoalmente dadas as circunstâncias, foi também o mais genial: Fernando Pessoa. Nasceu e morreu em Lisboa. Viveu apenas 47 anos, mas alargou em muito nossas possibilidades de contemplar o mundo e a vida. Criou vários heterônimos, os quais desenvolveram estilos próprios e estranhamente diversos.
Quando adolescente apaixonei-me intensamente por Álvaro de Campos e sua inquietação torturada. Vivia de "Tabacaria" e "Lisbon Revisited". Fazia eco à minha crescente descoberta das complexidades do mundo adulto. Álvaro dizia no começo de "Tabacaria":
Eu me identificava plenamente e me sentia traduzida. A irritação exasperada me compunha à época.
Passaram-se os anos e outro geminiano me apresentou Caieiro num passeio pela natureza. Encantou-me a contemplação muda e silenciosa dos vales, rios, montanhas e girassóis. Sabedoria e simplicidade a andar de mãos dadas. Nova compreensão do Sagrado se descortinou para mim, para além do pensamento. Num poema do Guardador de Rebanhos fala sobre felicidade e infelicidade...
Se eu pudesse trincar a terra toda E sentir-lhe uma paladar, Seria mais feliz um momento ... Mas eu nem sempre quero ser feliz. É preciso ser de vez em quando infeliz Para se poder ser natural... Nem tudo é dias de sol, E a chuva, quando falta muito, pede-se. Por isso tomo a infelicidade com a felicidade Naturalmente, como quem não estranha Que haja montanhas e planícies E que haja rochedos e erva ... O que é preciso é ser-se natural e calmo Na felicidade ou na infelicidade, Sentir como quem olha, Pensar como quem anda, E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre, E que o poente é belo e é bela a noite que fica... Assim é e assim seja ... |
Pessoa se repartiu em vários, dizem que entre pseudônimos, heterônimos,semi-heterônimos, personagens fíctícios e poetas mediúnicos chega-se a 72 nomes. Este sim foi um representante digno de seu signo...
2 comentários:
Tinha certeza de que você escreria sobre ele hoje....
Bravo! Pessoa (interessante o sobrenome, deveria ser plural...Pessoas)também foi um marco em minha trajetória poética. Coincidentemente estou lendo um livro excelente de José Paulo Cavalcanti Filho, intitulado "Fernando Pessoa, uma quase biografia." Estou adorando e recomendo insistentemente a todos os seus leitores. Grande beijo!
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