Cresci dentro de uma família fundamentalista onde tudo se sabia. Sobre a vida, sobre a morte, sobre a vida após a morte. Sobre o certo, sobre o errado, o bem e o mal. As certezas faziam parte de minha paisagem até onde se podia enxergar. Eu, porém, sempre percebi uma inquietação lá no fundo a me incomodar. Como estas pessoas podiam acreditar tanto que sempre estariam certas? Como ter certeza de que possuíam a verdade última? Claro que isto me criou muitos problemas e péssima reputação. Segundo eles, eu era descrente e dava ouvidos ao "mundo".
Nós, humanos, precisamos de algumas diretrizes para nos localizar na existência. Certezas simples de que o Sol estará lá quando acordarmos, de que a gravidade irá nos manter próximos do chão e assim por diante. Sentimos grande conforto em saber algumas coisas que podem nos economizar tempo e neurônios em ter que repensar a cada vez. O problema começa quando passamos a adquirir certezas sem qualquer reflexão prévia. Aceitamos que as pessoas são assim ou assado por causa de sua origem, cor de pele ou orientação sexual, sem nos dar ao trabalho de conhecer aquele que está na nossa frente. Podemos viver uma vida inteira orientados por afirmações das quais sequer temos consciência. Assumimos uma Constituição interna de crenças e nem nos damos conta de onde e porque vieram.
No processo da psicoterapia nos debruçamos sobre estas mesmas certezas e lentamente vamos levantando perguntas e mais perguntas: " Por que?", " Porque não?", "Quem disse?". Tudo é remexido e revisto. Trabalho árduo, desgastante e que causa muita angústia. Mas absolutamente necessário. Há que se tirar todo entulho que esconde aquilo que realmente somos e pensamos. Até que seja possível seguir com menos cargas impostas e mais descobertas pessoais. Aprender que é mais importante saber perguntar do que responder. Caminhar num mundo eternamente novo que pode ser descoberto a cada experiência.
Numa oficina realizada por mim e pela Cris Balieiro, recebemos nosso maior elogio. Somos professoras de dúvidas. Fazemos com que as pessoas saiam com mais perguntas do que respostas. Que assim seja!
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