Temos que tomar muito cuidado com as palavras...Certa vez fui convidada para falar sobre o desenvolvimento da responsabilidade na criança e quando fiz um breve resumo do que iria dizer, a pessoa com quem conversava ficou muito incomodada com a palavra "frustração". Não podemos nunca, jamais, em tempo algum associar nossa imagem a esta palavra proscrita. Eu, que nada entendo de marketing, tive que dar tratos à bola, para dizer o que queria sem mencionar o tal termo proibido na propaganda.
Pois é...Assim caminha a humanidade...Tentando evitar ou não querendo aprender como se lida com esta inevitabilidade da vida: nem sempre as coisas andam do jeito que desejamos, nem sempre conseguimos o que queremos, nem sempre somos amados por quem amamos. Fazer o quê?! Lutar sempre sem parar para pensar ou nunca assumir risco algum para não sentir-se mal?
Estranhamente a tal da frustração teria para criança a mesma função que o contato com animais e um pouquinho de sujeira: fortalecimento. Num caso do sistema imunológico do corpo, no outro da psique. Deveria ser introduzida lentamente na vida de qualquer bebê. Claro que teríamos crises de birra e choro, mas gradativamente e incrivelmente, iriam aprender a lidar melhor quando a vida diz "Não!". O que tenho visto acontecer é justamente o contrário, pais que jamais aprenderam a lidar com as dificuldades normais da existência, tentam proteger seus filhos de qualquer sofrimento. Acabam criando pequenos tiranos com nenhuma tolerância à frustração, solo fértil para o crescimento de grandes problemas no futuro.
Ser adulto e portanto, maduro, teria como condição ter aprendido a lidar com as decepções e dificuldades inerentes à vida. Numa cultura em que a medida é dada pelas coisas que temos, somos levados a batalhar arduamente para conquistar o mundo. Ao nos depararmos com nossos limites, superá-los sempre a qualquer custo e sem nenhuma reflexão. Não admitir falhas e derrotas. Sociedade infantil que a todos infantiliza. O caminho para o amadurecimento passa necessariamente pela frustração e superação das ilusões infantis de que tudo será como se deseja.
Se como sujeitos de nossas ações nos constituímos na falta, bendita seja a vida que nos proporciona todos os dias a nossa cota de frustrações para que, quem sabe, nos tornemos humanos em sua máxima expressão.
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