Amo árvores. Desde muito pequena tenho a estranha mania de conversar com elas..Conversar é modo de dizer. Eu falo , elas ouvem. Mas, por vezes, pareço sentir o que elas gostariam de dizer. Se acordo nesta cidade difícil e cinza , meu humor um tanto azedo pelo trânsito e pela correria sempre me deparo com alguma que pode fazer meu dia se iluminar. Creio que compartilho esta minha esquisitice com Rubem Alves, Caieiro e muitos outros. Estou em boa companhia...
"Olho para cima e para os lados para ver as árvores . Tento ouvir a sua silenciosa pregação. Se pregam é porque pensam. Mas seus pensamentos são diferentes dos nossos. Elas pensam da mesma forma como produzem brotos e flores. Não pensam pensamentos da cabeça, como nós. Ar árvores não têm cabeça. Não precisam ter cabeça. Elas pensam com o corpo: Raízes, tronco, galhos, folhas, flores , frutos. Pensam sempre os pensamentos que devem ser pensados, isto é, pensamentos que têm a ver com a vida. Agora, depois da chuva, as tipuanas e outras árvores estão cobertas de brotos novos. Os brotos novos são seus pensamentos alegres, pensamentos que as árvores devem ter, quando a primavera se aproxima. Os ipês têm outros pensamentos. Eles não são iguais às tipuanas. Estão floridos. Faz duas semanas, eram os ipês amarelos. Agora, os ipês-rosas e os ipês-brancos. Floriram não por felicidade mas por medo...."
"As árvores sabem que a única razão da sua vida é viver. Vivem para viver. Viver é bom. Raízes mergulhadas na terra, não fazem planos de viagem. Estão felizes onde estão. Enfrentam seca e chuva, noite e dia, chuva e calor, com silenciosa tranquilidade, sem acusar, sem lamentar. E morrem também tranquilas, sem medo. Ah! Como as pessoas seriam mais belas e felizes se fossem como as árvores. É possível que os estóicos e Spinoza tenham se tornado filósofos tomando lições com as árvores.
Olhando para as árvores, tive por um momento a ideia de que Deus é uma árvore em cuja sombra nós, crianças, brincamos e descansamos. Pura generosidade sem memória.
Acho que o verdadeiro, sobre São Francisco, não é que ele tenha pregado aos peixes e pássaros. A verdade é que ele ouviu o sermão das árvores. Por isso ficou tão manso, tão tranquilo. Ele tinha a beleza das árvores. estava reconciliado dom a vida. Então os pássaros fizeram ninhos nos seus galhos e os peixes comeram dos frutos que caíam na água"...
Sejamos simples e calmos
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir quando acabemos!...
(Alberto Caieiro)
Alves, Rubem - O amor que acende a lua - Campinas, Papirus, 1999
Imagem: minha árvore mais amada, irmã da Senhora Paineira, que sempre tem o poder de melhorar meus dias, fotografada por Sueli Finoto em suas várias possibilidades
http://suelifinoto-artes.blogspot.com/2011/08/tres-momentos-de-uma-arvore.html
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