Estavam ali, mais uma vez, sentados. Comiam quase em silêncio. Silêncio que lentamente se instalara entre eles. De quando em quando ele passava a discorrer sobre os assuntos de sempre, assuntos dele. Inesperadamente ela ergueu os olhos cansados do prato, olhou fixamente para ele e disparou comovida: "Existe coisa mais triste do que um grande amor agonizando?" Ele, sem pressa alguma, olhou para as mesas vazias ao redor como que se procurasse o motivo da pergunta.
Fitando, enfim, o infinito começou a tecer suas velhas teorias sobre relacionamentos: sobre como as coisas pioraram desde que as mulheres abandonaram sua essência, sobre a inequívoca necessidade masculina de uma poligamia consentida... Falou, falou e falou. Ela, apenas ouvia, soltando suspiros aqui e ali, exaurida até os ossos com aquela lenga lenga. Uma coisa, porém, era certa: ele sempre se mostrara assim, desde aquele longínquo e luminoso dia de outono em que se conheceram. Era, sobretudo, um teórico, cheio de teorias em que acreditava,mas nem se dava conta que não vivia em absoluto.
Ela de nada se arrependia: muito havia aprendido com este amor que sentira. Aquela longa explanação dele, entretanto, acabou por desligar os aparelhos de seu amor moribundo. Percebeu que não mais haveria sobressaltos, expectativas, nem desilusões. Apenas uma infinita e tediosa linha de mesmices. Chorou uma lágrima solitária pelo fim, levantou-se e partiu sem nenhuma necessidade de olhar pra trás.
2 comentários:
Adorei, Ca!!!
muito bom.
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