Nesta releitura de Clarissa Pínkola tenho me deparado com preciosidades um tanto esquecidas e indicações de caminho muito úteis. Ainda no capítulo da história da Vasalisa que fala sobre intuição, Clarissa mostra como podemos fazer escolhas melhores, especialmente quando estamos procurando alguém para partilhar nossas paisagens mais profundas.
Clarissa fala:
"A forma de manter o nosso vínculo com o lado selvagem consiste em nos perguntarmos exatamente o que desejamos. Essa pergunta é o que separa a semente do estrume. Uma das discriminações mais importantes que podemos fazer nesse sentido é a da diferença entre o que acena para nós de fora e o que chama de dentro da nossa alma.
Funciona da seguinte maneira. Imaginemos um bufê com creme chantilly, salmão, rosquinhas, rosbife, salada de frutas, panquecas com molhos, arroz, curry, iogurte e muitos, muitos outros quitutes colocados em mesa após mesa. Imaginemos que examinamos tudo e vemos algumas coisas que nos agradam. Podemos comentar com nossos botões, ' Ah! Eu realmente gostaria de comer um pouco daquilo, e disso aqui, e um pouco mais daquele outro prato'.
Alguns homens e mulheres tomam todas as decisões da vida dessa forma. Existe ao nosso redor um universo que acena constantemente, que se insinua nas nossas vidas, despertando e criando o apetite onde antes havia pouco ou nenhum. Nesse tipo de escolha, optamos por algo só porque aconteceu de ele estar debaixo do nosso nariz naquele exato momento. Não é necessariamente o que queremos, mas é interessante; e, quanto mais examinamos, mais irresistível ele nos parece.
Quando estamos ligados ao self instintivo, à alma do feminino que é natural e selvagem, em vez de examinar o que por acaso esteja em exibição, dizemos a nós mesmas: ' Estou com fome de quê?' Sem olhar para nada no mundo externo, nós nos voltamos para dentro e perguntamos: ' Do que sinto falta? O que desejo agora?' Perguntas alternativas seriam: ' Anseio por ter o quê? Estou morrendo de fome do quê?' E a resposta costuma vir rápido. ' Ah, acho que quero...na verdade o que seria muito gostoso, um pouco disso e daquilo...ah, é, é isso o que eu quero.'
Isto está no bufê? Talvez sim, talvez não. Na maioria dos casos, provavelmente não. teremos de ir à sua procura por algum tempo, às vezes por muito tempo. No final, porém, iremos encontrar o que procuramos e ficaremos felizes por termos feito sondagens acerca dos nossos anseios mais profundos.
Essa discriminação que Vasalisa aprende ao separar sementes de papoula do estrume e milho mofado do milho são é uma das lições mais difíceis de aprender, já que ela exige ânimo, determinação e dedicação, e muitas vezes implica esperar pelo que se quer. Em nenhuma outra atividade isso fica mais nítido do que na escolha de parceiros e companheiros. Um companheiro não pode ser escolhido como num bufê. O companheiro deve ser escolhido pelo profundo anseio da alma. Escolher só porque algo apetitoso está à sua frente não irá satisfazer nunca a fome do Self da alma. É para isso que serve a intuição. Ela é mensageira da alma."
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Estés, Clarissa Pínkola-Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem- Rio de Janeiro: Rocco, 1996, pags 143 e 144
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